O Sol entrou em Câncer na última sexta-feira, dia 21 de junho, pouco antes das 13h (horário de Brasília). O fenômeno marcou o início do Inverno no Hemisfério Sul, e do Verão no Norte do planeta. Por ser um dos pontos extremos da órbita da Terra em torno do Astro Rei, é um momento especial do calendário anual, conhecido como Solstício.
A chegada do Sol ao quarto signo do Zodíaco marca, em correlação com a Mandala Astrológica, o vértice do Fundo do Céu (IC), ou cúspide da Casa IV. É como se estivéssemos ingressando todos, de forma coletiva, na quarta casa do nosso mapa. Área que traz os temas familiares, das raízes, da ancestralidade e da bagagem que carregamos conosco a partir do clã onde nascemos.

Câncer é um dos quatro signos CARDINAIS, isto é, aqueles que iniciam as estações do ano. Por isso, a iniciativa e a energia para começar coisas está presente nesse momento do céu. No caso canceriano, é a iniciativa de colocar em funcionamento os próprios sentimentos que mobiliza a ação cardinal. Ou seja, cancerianos são motivados para criar laços emocionais.
Mas o que significa isso em termos coletivos, para todos nós, cancerianos ou não?
União para enfrentar o Inverno
Por ser o signo regido pela Lua, Câncer está relacionado com a maternidade, com a capacidade de nutrição e cuidado que exibimos em relação aqueles que nos são próximos. Afeição e expressão emocional, portanto, em relação à família e aos que amamos. Amigos próximos, parceiros, pessoas que “adotamos” para o nosso clã são os beneficiários principais dessa energia.
Ao indicar a Casa IV, ou fundo do céu, Câncer, que é um signo de energia feminina, também demonstra um período de recolhimento, de interiorização das energias vitais. No caso do Hemisfério Sul, isso é muito bem simbolizado pelo inverno. É um momento do ano em que estamos mais recolhidos, que fazemos programas dentro de nossas casas, para nos protegermos do frio e das noites mais longas.
O Solstício de Inverno marca também, no Brasil, o período em que se comemoram as Festas Juninas, em homenagem aos santos Antônio (13/06), João (24/06) e Pedro (29/06). Comidas típicas – e quentes, calóricas! – são comuns, assim como as danças e as músicas da quadrilha, que expressam a reunião das comunidades em torno do sagrado.

É um período de reunião de amigos e famílias, de compartilhamento de comida nas quermesses, de danças de roda conjuntas. Assim como os pinguins ficam em círculo, todos grudados, para enfrentar as adversas condições climáticas da Antártida durante a estação mais fria, também nós, humanos, nos reunimos para compartilhar calor, alimento, alegria e o sentimento de união conjunta com o sagrado.
Herança e metas: os Nodos em ativação
Neste ano, o Solstício chegou em um momento astrológico muito intenso. Enquanto o Sol estava a zero grau de Câncer na Casa IX – para o mapa de Brasília –, no céu se desenhava uma oposição entre os Nodos Lunares no eixo Câncer/Norte-Capricórnio/Sul, exatamente nas Casas IV e X. Ou seja, há uma disputa intensa entre os objetivos que devemos perseguir coletiva e materialmente, e a bagagem que trazemos.
Essa herança, familiar e individual, simbolizada pelo Nodo Sul indica nossas habilidades, hábitos e aptidões já conquistadas. Algo que, ao mesmo tempo, nos ajuda, mas também pode impedir que concretizemos nossas metas exteriores. Por estar em Câncer, o Nodo Norte nos diz que, neste momento, talvez seja nosso dever olhar para as nossas cicatrizes emocionais, ao invés de continuar mirando apenas nas nossas conquistas materiais.

Como ressaltam Guttman e Johnson, expressar os sentimentos a fim de realizar o processo natural de expansão e limpeza interna é uma necessidade canceriana (2005, p.328). Podemos, assim, tentar compreender aquilo que nos afeta emocionalmente, voltando a energia para a materialização de uma compreensão mais exata de nós mesmos.
O questionamento sobre essa bagagem que trazemos pode ser doído, sofrido. Podemos sentir que essas aptidões, habilidades ou hábito são nossa última chance de conexão com o passado que idolatramos, com a família que amamos, com os antepassados que nos fizeram chegar até aqui. Desfazer-se disso pode ser uma das coisas mais difíceis de alcançarmos;
Faxina afetiva
Em postagem anterior, destaquei o papel que Marte, transitando por Câncer, pode ter no processo de mergulho interior requerido neste momento. No mapa do Solstício, Marte é o planeta que aparece mais alto no céu, conjunto com Mercúrio e com o Nodo Norte na Casa X. Ação comunicativa e iniciativa para a aprendizagem dos temas cancerianos parece ser a melhor forma de realizar a vocação (Casa X) do momento.
Em oposição direta a eles estão o Nodo Sul (17°), Saturno (18°) e Plutão (22°) em Capricórnio, na Casa IV. O Senhor do Tempo e o Rei das Profundezas estão remexendo na nossa Casa IV, tirando toda a sujeira para fora, limpando e descartando tudo o que não tem mais utilidade. Nosso inconsciente está sendo transformado, transmutado, e apegos desnecessários podem ser cortados e jogados fora.

Talvez seja duro assistir à faxina, especialmente porque Saturno e Plutão vão remexer em coisas que são caras a nós: nossas crenças compartilhadas com nossos familiares, nossas certezas herdadas, nossas convicções adquiridas no berço familiar, nossos pré-conceitos formados durante a nossa infância.
Porém, se esse processo fosse fácil, não precisaríamos de Saturno conjunto com Plutão exatamente aí, não é mesmo? Somente planetas tão poderosos e tão profundos poderiam levar a cargo essa tarefa de reconstrução, de mobilização dessa energia.
De qualquer forma, podemos mobilizar a capacidade de trocas e de compartilhamento de informações de Mercúrio e a coragem e força marcianas para compreendermos o processo como um momento único de aprendizagem sobre nossos propósitos internos.
Reconstrução e recolhimento
A Lua aquariana faz um trígono com Vênus em Gêmeos e o ascendente libriano do Solstício, indicando que a reflexão, as trocas comunicativas, a tolerância com as diferentes opiniões, o equilíbrio e a originalidade de pensamento podem nos ajudar a ver a situação conflitiva sobre outro prisma. Mais uma ajuda cósmica para que possamos realizar as tarefas que se avizinham.

Lilith em Peixes, por sua vez, faz um bonito trígono com o Sol canceriano, indicando que talvez seja o momento de sairmos do cardume para ver como nossas emoções são afetadas pelos movimentos coletivos. Estamos indo para a direção certa, aquela que nos faz felizes, ou estamos apenas seguindo o grupo? Obviamente, vermos a nós mesmos como integrantes do clã humano, sensíveis aos sentimentos e dificuldades alheios, pode ajudar nesse processo. Mas sermos solidários e empáticos significa sentir o mesmo que o outro?
A quadratura exata de Júpiter em Sagitário (Casa III) e Netuno em Peixes (Casa VI), ambos a 18°, mostra ainda que o momento é propício para deixar de lado as ilusões criadas por nós mesmos sobre falsos líderes e gurus. Irmãos, companheiros e amigos próximos podem não ter razão sobre tudo. E precisamos trabalhar, em nosso cotidiano, para que a nossa desilusão com eles não nos impeça de resolver os problemas práticos que se apresentam.
O momento, em outras palavras, nos pede ponderação e coragem de olharmos para nós mesmos. De ver o que estamos carregando sem necessidade, qual é o peso que atravanca nossa caminhada. Quais crenças prejudicam nosso andar, em direção à nossa alma. Que bagagem já não nos ajuda mais e pode ser descartada.
É importante lembrar ainda que todas essas reflexões serão acionadas de forma bastante aguda no mês de julho, com o eclipse solar do dia 2 e o eclipse lunar do dia 16. Por isso, vale a pena se preparar para elas.
Precisamos mesmo que outros nos guiem para um movimento que, ao fim e ao cabo, é interno?
Precisamos que outros nos digam o que fazer?
Precisamos mesmo temer a algo ou alguém que está fora e nos outros?
Ou a resposta está dentro de nós?
P.S. Ficou curioso sobre o Solstício? Ouça o podcast A Voz dos Astros que gravamos no dia 21 de junho, juntamento com Maurice Jacoel e Raquel Beckman, da Síncrono, sobre o assunto.
Referências
GUTTMAN, A.; JOHNSON, K. Astrologia e Mitologia. Seus arquétipos e a linguagem dos símbolos. São Paulo: Madras, 2005.
Uma resposta para “Solstício de Inverno: tempo de recolhimento antes dos eclipses de julho”