Solstício de Inverno: tempo de recolhimento antes dos eclipses de julho

O Sol entrou em Câncer na última sexta-feira, dia 21 de junho, pouco antes das 13h (horário de Brasília). O fenômeno marcou o início do Inverno no Hemisfério Sul, e do Verão no Norte do planeta. Por ser um dos pontos extremos da órbita da Terra em torno do Astro Rei, é um momento especial do calendário anual, conhecido como Solstício.

A chegada do Sol ao quarto signo do Zodíaco marca, em correlação com a Mandala Astrológica, o vértice do Fundo do Céu (IC), ou cúspide da Casa IV. É como se estivéssemos ingressando todos, de forma coletiva, na quarta casa do nosso mapa. Área que traz os temas familiares, das raízes, da ancestralidade e da bagagem que carregamos conosco a partir do clã onde nascemos.

benji-aird-57421-unsplash
A bagagem que trazemos da família nos acompanha por toda a vida. Photo by Benji Aird on Unsplash

Câncer é um dos quatro signos CARDINAIS, isto é, aqueles que iniciam as estações do ano. Por isso, a iniciativa e a energia para começar coisas está presente nesse momento do céu. No caso canceriano, é a iniciativa de colocar em funcionamento os próprios sentimentos que mobiliza a ação cardinal. Ou seja, cancerianos são motivados para criar laços emocionais.

Mas o que significa isso em termos coletivos, para todos nós, cancerianos ou não?

União para enfrentar o Inverno

Por ser o signo regido pela Lua, Câncer está relacionado com a maternidade, com a capacidade de nutrição e cuidado que exibimos em relação aqueles que nos são próximos. Afeição e expressão emocional, portanto, em relação à família e aos que amamos. Amigos próximos, parceiros, pessoas que “adotamos” para o nosso clã são os beneficiários principais dessa energia.

Ao indicar a Casa IV, ou fundo do céu, Câncer, que é um signo de energia feminina, também demonstra um período de recolhimento, de interiorização das energias vitais. No caso do Hemisfério Sul, isso é muito bem simbolizado pelo inverno. É um momento do ano em que estamos mais recolhidos, que fazemos programas dentro de nossas casas, para nos protegermos do frio e das noites mais longas.

O Solstício de Inverno marca também, no Brasil, o período em que se comemoram as Festas Juninas, em homenagem aos santos Antônio (13/06), João (24/06) e Pedro (29/06). Comidas típicas – e quentes, calóricas! – são comuns, assim como as danças e as músicas da quadrilha, que expressam a reunião das comunidades em torno do sagrado.

marcha dos pinguins
Assim como os pinguins, também nos reunimos durante o inverno. Imagem do filme “A Marcha dos Pinguins”.

É um período de reunião de amigos e famílias, de compartilhamento de comida nas quermesses, de danças de roda conjuntas. Assim como os pinguins ficam em círculo, todos grudados, para enfrentar as adversas condições climáticas da Antártida durante a estação mais fria, também nós, humanos, nos reunimos para compartilhar calor, alimento, alegria e o sentimento de união conjunta com o sagrado.

Herança e metas: os Nodos em ativação

Neste ano, o Solstício chegou em um momento astrológico muito intenso. Enquanto o Sol estava a zero grau de Câncer na Casa IX – para o mapa de Brasília –, no céu se desenhava uma oposição entre os Nodos Lunares no eixo Câncer/Norte-Capricórnio/Sul, exatamente nas Casas IV e X. Ou seja, há uma disputa intensa entre os objetivos que devemos perseguir coletiva e materialmente, e a bagagem que trazemos.

Essa herança, familiar e individual, simbolizada pelo Nodo Sul indica nossas habilidades, hábitos e aptidões já conquistadas. Algo que, ao mesmo tempo, nos ajuda, mas também pode impedir que concretizemos nossas metas exteriores. Por estar em Câncer, o Nodo Norte nos diz que, neste momento, talvez seja nosso dever olhar para as nossas cicatrizes emocionais, ao invés de continuar mirando apenas nas nossas conquistas materiais.

sharon-mccutcheon-1430407-unsplash
Nem sempre as cicatrizes são visíveis. Mas todas precisam ser compreendidas.                         Photo by Sharon McCutcheon on Unsplash

Como ressaltam Guttman e Johnson, expressar os sentimentos a fim de realizar o processo natural de expansão e limpeza interna é uma necessidade canceriana (2005, p.328). Podemos, assim, tentar compreender aquilo que nos afeta emocionalmente, voltando a energia para a materialização de uma compreensão mais exata de nós mesmos.

O questionamento sobre essa bagagem que trazemos pode ser doído, sofrido. Podemos sentir que essas aptidões, habilidades ou hábito são nossa última chance de conexão com o passado que idolatramos, com a família que amamos, com os antepassados que nos fizeram chegar até aqui. Desfazer-se disso pode ser uma das coisas mais difíceis de alcançarmos;

Faxina afetiva

Em postagem anterior, destaquei o papel que Marte, transitando por Câncer, pode ter no processo de mergulho interior requerido neste momento. No mapa do Solstício, Marte é o planeta que aparece mais alto no céu, conjunto com Mercúrio e com o Nodo Norte na Casa X. Ação comunicativa e iniciativa para a aprendizagem dos temas cancerianos parece ser a melhor forma de realizar a vocação (Casa X) do momento.

Em oposição direta a eles estão o Nodo Sul (17°), Saturno (18°) e Plutão (22°) em Capricórnio, na Casa IV. O Senhor do Tempo e o Rei das Profundezas estão remexendo na nossa Casa IV, tirando toda a sujeira para fora, limpando e descartando tudo o que não tem mais utilidade. Nosso inconsciente está sendo transformado, transmutado, e apegos desnecessários podem ser cortados e jogados fora.

couple-cleaning
Mesmo contrariados, precisamos fazer uma faxina de vez em quando…

Talvez seja duro assistir à faxina, especialmente porque Saturno e Plutão vão remexer em coisas que são caras a nós: nossas crenças compartilhadas com nossos familiares, nossas certezas herdadas, nossas convicções adquiridas no berço familiar, nossos pré-conceitos formados durante a nossa infância.

Porém, se esse processo fosse fácil, não precisaríamos de Saturno conjunto com Plutão exatamente aí, não é mesmo? Somente planetas tão poderosos e tão profundos poderiam levar a cargo essa tarefa de reconstrução, de mobilização dessa energia.

De qualquer forma, podemos mobilizar a capacidade de trocas e de compartilhamento de informações de Mercúrio e a coragem e força marcianas para compreendermos o processo como um momento único de aprendizagem sobre nossos propósitos internos.

Reconstrução e recolhimento

A Lua aquariana faz um trígono com Vênus em Gêmeos e o ascendente libriano do Solstício, indicando que a reflexão, as trocas comunicativas, a tolerância com as diferentes opiniões, o equilíbrio e a originalidade de pensamento podem nos ajudar a ver a situação conflitiva sobre outro prisma. Mais uma ajuda cósmica para que possamos realizar as tarefas que se avizinham.

Solstício de Inverno 2019
Mapa do Solstício de Inverno 2019 para Brasília/DF, Brasil.

Lilith em Peixes, por sua vez, faz um bonito trígono com o Sol canceriano, indicando que talvez seja o momento de sairmos do cardume para ver como nossas emoções são afetadas pelos movimentos coletivos. Estamos indo para a direção certa, aquela que nos faz felizes, ou estamos apenas seguindo o grupo? Obviamente, vermos a nós mesmos como integrantes do clã humano, sensíveis aos sentimentos e dificuldades alheios, pode ajudar nesse processo. Mas sermos solidários e empáticos significa sentir o mesmo que o outro?

A quadratura exata de Júpiter em Sagitário (Casa III) e Netuno em Peixes (Casa VI), ambos a 18°, mostra ainda que o momento é propício para deixar de lado as ilusões criadas por nós mesmos sobre falsos líderes e gurus. Irmãos, companheiros e amigos próximos podem não ter razão sobre tudo. E precisamos trabalhar, em nosso cotidiano, para que a nossa desilusão com eles não nos impeça de resolver os problemas práticos que se apresentam.

O momento, em outras palavras, nos pede ponderação e coragem de olharmos para nós mesmos. De ver o que estamos carregando sem necessidade, qual é o peso que atravanca nossa caminhada. Quais crenças prejudicam nosso andar, em direção à nossa alma. Que bagagem já não nos ajuda mais e pode ser descartada.

É importante lembrar ainda que todas essas reflexões serão acionadas de forma bastante aguda no mês de julho, com o eclipse solar do dia 2 e o eclipse lunar do dia 16. Por isso, vale a pena se preparar para elas.

Precisamos mesmo que outros nos guiem para um movimento que, ao fim e ao cabo, é interno?

Precisamos que outros nos digam o que fazer?

Precisamos mesmo temer a algo ou alguém que está fora e nos outros?

Ou a resposta está dentro de nós?

P.S. Ficou curioso sobre o Solstício? Ouça o podcast A Voz dos Astros que gravamos no dia 21 de junho, juntamento com Maurice Jacoel e Raquel Beckman, da Síncrono, sobre o assunto.

Referências

GUTTMAN, A.; JOHNSON, K. Astrologia e Mitologia. Seus arquétipos e a linguagem dos símbolos. São Paulo: Madras, 2005.

Uma resposta para “Solstício de Inverno: tempo de recolhimento antes dos eclipses de julho”

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Writing from the Twelfth House

Anne Whitaker's blog exploring astrology's many highways and byways...come and join me!

Blog da Boitempo

Blog da maior editora de pensamento crítico da América Latina

Café Astrologique

Bem-vindo ao Café Astrologique! Um lugar para troca de experiências gastronômicas e dicas.

Sky Writer

Donna Cunningham's Blog on astrology, healing, and writing.

Projeto LUMINAR

Astrologia, Simbolismo, Magia, Semiótica, História etc.

%d blogueiros gostam disto: