O trânsito de Lilith pelo signo de Peixes, desde 4 de maio último, tem trazido à tona para o coletivo uma série de questões relativas ao feminino e, especialmente, à opressão ou repressão do feminino em nossa sociedade. Na semana que passou, Brasília testemunhou duas marchas protagonizadas por mulheres: a Marcha das Mulheres Indígenas, na terça-feira (13), e a Marcha das Margaridas, na quarta (14).

Não por acaso, na quinta (15), a Lua Cheia em Aquário apontou para a revisão dos valores sociais como alvo das nossas emoções. Na lunação deste mês, a mãe lunar não está preocupada apenas com a própria prole, mas com o futuro de toda a humanidade. Além disso, no momento exato em que as Margaridas tomaram as ruas, na manhã do dia 14 de agosto, Vênus estava conjunta ao Sol leonino. Um chamado à integração da potência feminina que existe dentro de todos nós, homens ou mulheres.
Em postagem anterior, comentei que Lilith em Peixes, onde fica até 27 de janeiro de 2020, nos remete à fluidez incessante da água e traz à tona sentimentos viscerais e profundos. A sombra deste posicionamento é a confiança, ou seja, quando em Peixes, Lilith revela o medo da vulnerabilidade e se preocupa com a estabilidade de suas emoções.

Coletivamente, é um período em que todos nós podemos estar mais conectados à compulsão/pulsão, e precisaremos lidar com nossas emoções de forma bastante direta. Podemos ter um contato direto com a loucura alheia, e não surpreende que um homem tenha descido do seu carro, retirado suas roupas e transitado nu no meio das mulheres que marchavam até ser preso pela polícia.
Empatia e compaixão
Peixes é um signo um tanto ambíguo, e pode levar a paradoxos interessantes, como o medo da intimidade nas relações ou a entrega absoluta. Pode ser difícil encontrar um meio termo para trabalhar a energia do último signo do Zodíaco e, por isso, o escapismo, ou a fuga pelo sonho e pelas fantasias, é um elemento importante.
A qualidade utópica das duas marchas, o discurso de luta por um mundo melhor e, essencialmente, “mais humano”, mais conectado com a preservação não apenas da natureza, mas também da dignidade das populações, é um exemplo interessante da lógica pisciana. O lema da marcha já revela o tom pisciano do encontro: “Margaridas na Luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência”.

Por fazermos parte do universo, somos responsáveis também pela sua preservação e de todos os demais seres vivos, que compartilham dele conosco. Em outros termos: a humanidade, da qual compartilhamos, é parte deste universo maior. Compaixão, sensibilidade, empatia, capacidade de imaginação e utopia, e busca pela segurança emocional por meio de uma ação coletiva são marcas do signo do cardume que foram partilhadas nas declarações e nas imagens das duas marchas.
O depoimento de uma participante da Marcha das Margaridas é revelador:
“Sempre quis vir e não dava certo. Nem sei se tenho uma palavra pra descrever [isso]. Quando você vê tantas mulheres assim, unidas, em busca de melhorias, de melhores políticas, chega a arrepiar. Eu venho pra participar, pra unir forças com as mulheres. Se perguntarem se eu estou cansada, não estou. Quando a gente vê isso daqui, cada conversa, a gente se arrepia. É lindo”.
Combinadas com essas questões estavam demandas materiais como: o direito à terra e a uma alimentação saudável, a preservação ambiental, a autonomia e dignidade para criar os filhos, o direito de decidir sobre o aborto e de exercer a sexualidade livremente, os direitos políticos e econômicos em igualdade com os homens. Todos esses temas nos remetem às mudanças anunciadas por Urano em Touro, pois dizem respeito ao cotidiano das mulheres.
Terra e Água
A qualidade mágica/sagrada dos elementos femininos Água e Terra é algo importante de se notar nos eventos desta semana. Na Astrologia, os signos de característica receptiva, isto é, conectados com a energia Yin, são desses dois elementos. Enquanto a Água nos fala do sentimento e das emoções, a Terra nos conecta com as sensações e experiências materiais, traços preponderantes nas divindades femininas de várias culturas e mitologias.
Não se trata apenas, portanto, de demandas por direito à igualdade com os homens, em termos políticos ou econômicos, mas também de assegurar suas próprias especificidades enquanto mulheres. Se trata de ter direito de criar os filhos em condições de dignidade, com amorosidade e conectadas com a Terra, pois tanto indígenas quanto trabalhadoras rurais lidam diretamente com os recursos naturais para a sobrevivência.

Indígenas que vestiram suas roupas típicas e saíram a marchar pela cidade com seus filhos a tiracolo, Margaridas evangélicas feministas e católicas favoráveis ao direito de escolha das mulheres sobre o aborto são símbolos da força desse feminino que não se curva aos condicionamentos sociais. Especialmente, quando as regras sociais desconsideram seus desejos e sua potência de afirmação, dons tão típicos da energia de Lilith.
Tradução espiritual
Uma das habilidades de quem nasce com Lilith em Peixes é saber traduzir em palavras aquilo que não tem explicação. Ao buscar o mágico, o místico, pode entrar em contato com amores impossíveis ou tragédias amorosas, mas também pode desenvolver o dom da música e se transformar em um excelente terapeuta espiritual, holístico, psiquiatra ou enfermeiro.

Margarida Maria Alves é a camponesa paraibana que dá nome à marcha por ter sido assassinada com um tiro de espingarda calibre 12 na face, na janela de sua casa, na frente do marido e do filho de oito anos, em 12 de agosto de 1983. Não seria ela uma grande força inspiradora da cura para nossas mazelas sociais?
Margarida foi a primeira mulher a presidir um sindicato de trabalhadores rurais no Brasil e foi morta poucos dias depois de completar 50 anos. Nos 12 anos em que presidiu o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB), Margarida foi responsável pela criação de delegacias sindicais nas usinas e engenhos da região, além de mais de 600 ações trabalhistas ajuizadas na região. Os mandantes do crime, dois latifundiários, nunca foram condenados.

Não temos o horário de nascimento dela, aos 5 de agosto de 1933 em Alagoa Grande. Mesmo assim, percebe-se que ela nasceu com uma Lua Cheia aquariana conjunta a Saturno. Estruturação da capacidade materna a serviço do coletivo, nada mais relevante para uma sindicalista. Outro ponto notável é a conjunção de Vênus com Netuno, em Virgem, conferindo uma capacidade de almejar e sonhar com um mundo melhor, trabalhando intensamente para realizá-lo.

Com Lilith geminiana, sua capacidade comunicativa e mental deve ter sido extraordinária, o que revelam os seus dons de liderança política em um ambiente extremamente machista e patriarcal. A Lilith de Margarida também se beneficiava de um belíssimo trígono com o Marte libriano, conferindo a ela, muito provavelmente, uma capacidade diplomática e negociadora invejável.
Corpo e espírito
A Marcha das Margaridas ocorre a cada quatro anos em Brasília desde 2000, patrocinada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e mais de 27 federações sindicais e quatro mil sindicatos.
No mapa de abertura da Marcha das Margaridas, da qual participaram também as mulheres indígenas, percebe-se o Marte leonino conjunto ao Ascendente; Vênus colada ao Sol, e Mercúrio também em Leão. Todos na Casa XII. É como se as mulheres estivessem em Brasília para nomear seus inimigos e trazer à tona a necessidade de atenção para os conteúdos do inconsciente coletivo que foram reprimidos durante séculos.

Lilith próxima de Netuno, ambos em Peixes na Casa VII, mostram que os relacionamentos e a sensibilidade para as parcerias são a tônica do evento. Ou seja, não basta mais às mulheres camponesas ou indígenas serem amantes ou apenas mães, elas querem ser parceiras dos homens em todos os empreendimentos. Elas querem relacionamentos sensíveis e conectados ao sagrado.
Por sua vez, em 2019 Brasília foi palco da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. O lema do evento já é revelador da potência lilithiana dos movimentos coletivos femininos: “Território: nosso corpo, nosso espírito”. Não se trata, portanto, de apenas demandar igualdade com os homens, mas de representar a diversidade feminina sob várias perspectivas e de reivindicar o direito ao próprio corpo (Lilith), ao próprio território ou casa (Vênus-Terra) e ao próprio espírito ou sentimento (Lua-Água).

Sigamos junt@s com a força criativa de Lilith em Peixes em busca de um mundo mais feminino e, portanto, mais humano.
2 respostas para “Lilith em Peixes: comentários sobre a força de Margaridas e Indígenas”