Desde 2019 estamos falando em incêndios e tragédias conectadas a eles. Em fevereiro do ano passado, 10 adolescentes morreram e três ficaram feridos quando o alojamento do clube Flamengo, no Rio de Janeiro, pegou fogo. Em 15 de abril, a Catedral de Notre Dame, em Paris, pegou fogo e quase foi completamente destruída.
Agradeço ao Mestre Maurice Jacoel pela lembrança desse fato durante uma conversa que tivemos essa semana. Eu, perplexa com a expressão que a configuração do céu está tomando por aqui na Terra. Ele, sorrindo, como de costume, com a surpresa da aluna ao perceber a correspondência entre os movimentos celestes e os nossos movimentos terráqueos.
Apenas a título de curiosidade, a Catedral foi feita entre 1163 e 1245, completando um ciclo de Urano em Aquário. Símbolo da civilização ocidental cristã, a construção foi iniciada com Júpiter em Libra, Saturno e Netuno em Sagitário e Plutão em Gêmeos. Na conclusão da obra, Júpiter e Saturno estavam em Libra, Netuno em Gêmeos e Plutão em Escorpião. No momento do incêndio, o Sol em Áries quadrava Saturno e Plutão em Capricórnio, e Marte em Gêmeos quadrava a Lua em Virgem.
Desde o eclipse solar de 26 de dezembro passado, são as queimadas na Austrália que estão chamando nossa atenção. Sem precedentes históricos para a intensidade verificada, o fenômeno sazonal dos incêndios florestais naquele país parece ter saído totalmente do controle nesta temporada 2019/2020, começando dois meses antes do usual, em setembro.

Até o início desta semana, notícias relatavam que meio bilhão de animais já haviam morrido, incluindo um terço da população dos coalas. Além da fauna e da flora, as vítimas humanas chegavam a 24. Mais de 1,2 mil pessoas já haviam perdido suas casas e os céus das cidades do Sul e do Leste do país continuam vermelhos há dias por conta da fumaça. Que, aliás, já chegou ao sul do continente americano.
As comparações com as queimadas que atingiram a Amazônia em 2019 seguem atraindo leitores nas redes sociais e nas mídias convencionais. Porém, os especialistas dizem que o único ponto de comparação, para além da presença do fogo, é que o aquecimento global vai intensificar esses fenômenos. Em relação às causas e à intensidade das chamas nos dois países, não é possível uma comparação, alertam os biólogos.
Queimando a Terra
Mas a presença de tanto fogo nos acontecimentos recentes – sem contar as personalidades coléricas dos atuais líderes mundiais, dispostos a incendiar não apenas o debate, mas a própria ação política ao transformá-la em ação bélica já na primeira semana de 2020 – chamou a minha atenção para os aspectos astrológicos envolvidos.

Estamos prestes a vivenciar a conjunção exata de Saturno e Plutão no signo de Capricórnio, que ocorre no próximo domingo, 12 de janeiro de 2020, às 13h59 no horário de Brasília. Muitos astrólogos já escreveram sobre o significado dessa conjunção e já tratamos desse tema no podcast A Voz dos Astros.
O fato é que a conjunção do Senhor do Tempo – Saturno – com o Senhor da Morte – Plutão – em um signo cardinal de Terra parece estar colocando o próprio planeta à prova, com incêndios gigantescos e novas ameaças de guerra nuclear, após o conflito entre Estados Unidos e Irã. Será que é chegado o fim (Plutão) de uma era (Saturno)?
Uma pista para a resposta está no fato de que a operação alquímica escolhida nesse processo parecer ser, sem dúvida, a Calcinatio, isto é, a fogueira. Será que o planeta Terra está queimando para expurgar os seres indesejáveis de si próprio? Estaria a Terra cauterizando as suas feridas por meio dos incêndios provocados por nós, humanos?

Queima de arquivo com o assassinato do general iraniano pelos mísseis estado-unidenses? Queima dos territórios e da herança indígena no Brasil? Queima da fauna e da flora, das propriedades e da vida de populações rurais na Austrália? Queima da paz e dos ecossistemas antigamente equilibrados?
Eclipse Lunar
Comentamos sobre o último eclipse de 2019, que atingiu o Sol aos 4° de Capricórnio no dia 26 de dezembro. Nesta sexta-feira, 10 de janeiro, será a vez da Lua ser eclipsada pelo Sol, durante a Lua Cheia em Câncer. Os Nodos Lunares permanecem no eixo Câncer-Capricórnio, lembrando que estamos trabalhando os temas da família, realização, tradição, materialização, nutrição e ambição. De forma individual, mas também de modo coletivo.
O transbordamento emocional provocado pelos eclipses lunares pode ser motivado por situações, relações ou hábitos e pode significar uma libertação de processos iniciados anteriormente. Especificamente no caso brasileiro, o eclipse dessa semana vai trabalhar os conteúdos relacionados aos nossos valores e recursos, bem como a nossa capacidade de transformação e superação das crises.
É hora de pensar racionalmente e trazer à consciência as motivações de nossos atos, enfrentando os conflitos internos entre estruturas que já não servem e pulsões que nos levam à agressão. Somente assim podemos materializar a mudança que queremos. (Sem falar que essa energia pode nos preparar melhor para a conjunção de Saturno e Plutão.)
Nossas metas podem ser idealistas, sensíveis, e até mesmo um pouco fantasiosas, nossa liberdade pode estar ameaçada por nossas próprias ações, mas quem sabe a arte e a sensibilidade como filosofia de vida não conseguem servir de apoio para reverter o quadro e concretizar as realizações?

A estabilidade nas parcerias e nos grupos pode ser desafiada para que possamos ampliar a inclusão de quem ainda não entrou neles. E uma ação entusiasmada no cotidiano e nos hábitos de vida para alcançar nossas metas pode aproveitar o estímulo de cura para criar novas possibilidades de expressar nossa vocação.
Fogueira como âncora
Segundo Greene e Saasportas, o estágio alquímico da Calcinatio traz o simbolismo do Fogo como forma de transformação emocional, em busca do “ouro”, ou seja, do próprio Self. Há uma frustração do desejo, até que as emoções acabem exauridas por si mesmas para que se consiga chegar à essência delas.

Em certo sentido, as paixões primitivas – exacerbadas por Plutão! – precisam ser queimadas, derretidas, para que possamos transmutá-las em energia vital de criação. Os autores afirmam que pessoas com muitos planetas no elemento Fogo ou com Marte enfatizado podem sofrer esse processo com mais frequência.
Mas, e quanto à conjunção de Saturno e Plutão em Capricórnio? Afinal, este é um signo de Terra. É interessante perceber que no momento do aspecto exato, no início da tarde do dia 12 para o Brasil, Lua, Quíron e Marte estarão nos signos de Fogo – Leão, Sagitário e Áries, respectivamente – formando um tripé de apoio para que a ação emocional seja direcionada à cura, por meio da expansão dos horizontes, da generosidade com o coletivo e das novas iniciativas em relação aos grupos dos quais fazemos parte.
Também vale lembrar que Capricórnio é um signo cardinal, afeito aos começos, às novas empreitadas e à iniciativa, onde Marte – o mais ígneo dos planetas – está exaltado e funciona por meio da estratégia, da ambição e da perseverança.
Poder de Transformação
Ressalte-se ainda a correspondência entre Hades-Plutão e Ares-Marte, ambos arquétipos conectados com a guerra, com o conflito, com a agressividade e com os instintos de morte, conforme analisamos anteriormente. Se Plutão é impulsionado “pelo instinto cego”, como afirmam Greene e Saasportas, a queima ou depuração das nossas pulsões pode nos levar a ver que também somos donos da agressividade que projetamos no mundo e nos outros.
De uma forma dolorida e incontrolável, o fogo purifica e ilumina, para que possamos estimular a integridade e a autoconfiança interior depois de superarmos os desejos, a arrogância e a inevitável frustração da paixão (Greene & Saasportas, 1995, p.209).

Assim como nos conta a mitologia, Perséfone precisou descer ao mundo dos mortos e unir-se a Plutão para conseguir crescer e desenvolver todo o seu potencial como rainha. A morte de Cora, filha de Deméter, foi necessária para o nascimento da mulher que se tornou. A transformação requerida por Plutão não é fácil, portanto, uma vez que implica deixar uma parte de nossa psique morrer.
A conjunção exata de Saturno com ele em Capricórnio, acompanhado ainda de Mercúrio e do Sol, mostra que este é um excelente momento para nos transformarmos, para deixarmos a nossa parte mais destrutiva e repulsiva morrer, a fim de construirmos uma nova identidade, mais produtiva e fecunda.

Como ressaltam Greene e Saasportas, Plutão tem a qualidade irrevogável de algo que foi “finalmente pago e liquidado” (1995, p.246). Para eles, uma vez que o trabalho saturnino de corte, faxina e estruturação tenha sido feito, pode significar um período de alta energia criativa.
O desconforto e o calor da Calcinatio são desagradáveis, mas podem queimar e destruir todas as presunções falsas, revelando o verdadeiro âmago da mágoa (Greene & Saasportas, 1995, p. 248).
Não tenhamos ilusões, portanto, de que será um processo fácil. Muito menos indolor.
Mas como as sementes das flores australianas depois das queimadas, talvez possamos brotar. Mais coloridos, mais diversos, mais humanos.

Referências
GREENE, Liz; SASPORTAS, Howard. A dinâmica do Inconsciente. Seminários sobre Astrologia Psicológica. 10ª ed. São Paulo: Editora Pensamento, 1995.
8 respostas para “Como sobreviver à conjunção de Saturno-Plutão apenas chamuscados”