O feminismo chegou ao BBB? Lilith em Áries entra em cena na cultura popular

Em Áries desde o mês passado, Lilith já está mostrando a que veio, com o ar beligerante do signo do Carneiro tomando conta da atmosfera astral. O Carnaval, talvez a mais forte expressão da cultura popular por estas paragens, trouxe crítica social e política de forma massiva, seja nos blocos que percorreram as ruas das cidades brasileiras, seja nos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde tiveram espaço indígenas e quilombolas, lavadeiras baianas, Elza Soares e Jesus Cristo favelado, entre outros personagens desfavorecidos.

 

Em São Paulo, a Águia de Ouro venceu o desfile das escolas de samba com um enredo que homenageou Paulo Freire e defendeu o poder do saber e do conhecimento. No Rio de Janeiro, a Unidos do Viradouro ganhou a disputa ao cantar a história de um grupo musical baiano que surgiu dos cantos, danças e crenças das lavadeiras do litoral da Bahia. As Ganhadeiras de Itapuã eram mulheres escravizadas que vendiam comida e lavavam roupas na Lagoa do Abaeté, em Salvador, no século XIX. Com o dinheiro, compravam a liberdade de outras mulheres escravizadas.

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Desfile da Unidos do Viradouro homenageou As Ganhadeiras de Itapuã, mulheres escravizadas que lavavam roupas para comprar a sua liberdade e a de outras mulheres. A escola venceu o Carnaval 2020 no grupo especial do Rio de Janeiro.

Apesar do clima carnavalesco de fevereiro, nas redes sociais e nas ruas, o enfrentamento continuou mobilizando lideranças políticas e influenciadores digitais. As polêmicas trataram desde os temas dos sambas-enredo, passando pelas discussões dentro do Big Brother Brasil, a convocação de manifestações contra o Congresso por autoridades, as ofensas de baixo calão proferidas pelo presidente contra uma repórter e até  uma tentativa mal-sucedida de acabar com uma greve de policiais com um trator, protagonizada por um senador.

Como comentei na postagem anterior, a ênfase nas casas I, II e III do mapa de entrada de Lilith em Áries para o Brasil pode fazer com haja uma transformação identitária em curso, conectada a valores de inovação, liberdade e originalidade. Assim, várias instituições lançaram campanhas contra o assédio sexual durante o Carnaval, com mensagens que circularam em profusão pelas redes sociais.

Contudo, se a cura e a transformação propostas por Lilith – conjunta a Quíron – em Áries pode vir por meio de uma comunicação não violenta, ainda não parecemos estar prontos para ela. De qualquer forma, é interessante perceber como há, na opinião pública brasileira, um movimento de vocalização de demandas conectadas ao feminino no último mês. O exemplo dos debates e da movimentação nas redes sociais por conta do Big Brother Brasil 2020 é bastante demonstrativa dessa tendência.

Disputa por atenção e simpatia

Como ressalta Gravelaine (1985), Lilith em Áries está conectada à violência, pois ela adquire a espontaneidade e a impulsividade desse signo. Essa energia crua é muito difícil de conter e de controlar, especialmente se houver risco, perigo, luta ou competição envolvidos. Nesse sentido, haverá excesso ou completa falta de afirmação pessoal, a depender dos outros aspectos envolvidos na carta natal.

É difícil imaginar um cenário de entretenimento mais perfeito para a expressão dessa energia do que um jogo coletivo, transmitido ao vivo 24 horas por dia, no qual 18 pessoas ficam confinadas por dois meses dentro de uma casa e precisam disputar a atenção e a simpatia não apenas dos outros participantes, mas especialmente do público que assiste ao programa, responsável por eleger o vencedor e eliminar os perdedores, um a cada semana.

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Participantes do Big Brother Brasil 2020.

Em sua 20ª edição, o programa Big Brother Brasil, produzido pela Globo, voltou a ampliar sua audiência e a mobilizar comentários pelos internautas. A estratégia inovadora de misturar pessoas comuns com pessoas já conhecidas do público – atores, modelos, cantores, atletas e influenciadores digitais – parece ter dado certo.

No jogo, apenas um indivíduo consegue receber o prêmio, que consiste em R$ 1,5 milhão, seguidores nas redes sociais e contratos de publicidade, além de notoriedade pública por meio das constantes aparições nos demais programas da emissora. Entre os participantes da atração, há quem tenha se tornado político (Jean Wyllys) ou atriz da própria emissora (Grazi Massafera).

Discussões e conchavos

Entre as estratégias para vencer uma disputa, a divisão dos indivíduos em grupos é algo que a Sociologia e a própria Ciência Política já estudaram à exaustão. A formação das identidades coletivas para enfrentamentos e brigas é uma constante da espécie humana. Por isso, os conchavos e fofocas não surpreendem mais os espectadores da atração.

Assim como também não surpreendem os casos amorosos que surgem em um cenário onde homens e mulheres são obrigados a conviver de forma íntima por dois meses. Para além disso, a escolha dos participantes é, geralmente, feita de modo a motivar tais encontros, visto que a maior parte dos participantes é jovem e bonita.

Contudo, nesta edição, as redes pipocaram com internautas pedindo a eliminação de participantes homens acusados de assédio e de machismo contra suas colegas mulheres. Um deles chegou a ser retirado da casa para depor numa delegacia, a partir das imagens veiculadas no programa.

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Aparentemente, a violência contra mulheres encontrou espaço dentro do BBB 20. Photo by Sydney Sims on Unsplash

A primeira mulher foi eliminada somente na quinta semana, depois de quatro homens terem saído da Casa. Não por acaso, ela foi a vítima do assédio que motivou a votação maciça pela eliminação de um dos participantes. Apesar da simpatia inicial do público, o fato de ela ter dito que não se sentiu agredida na ocasião e de ter expresso seu interesse sexual por um dos rapazes, mesmo tendo namorado fora da Casa, provavelmente motivou sua saída.

Mulheres contra homens?

Ao que parece, a opinião pública que assiste e vota na atração não gostou do fato de que a moça – influenciadora digital na área de beleza – não se uniu às demais mulheres em suas críticas contra os homens. Duas das participantes teriam contado às outras sobre a estratégia de alguns deles para acelerar a eliminação das mulheres.

Segundo o relato, a estratégia consistia na sedução das participantes que são casadas ou têm namorados para colocar o público contra elas. A partir dessa situação, as participantes mulheres, em vários momentos, vocalizaram um discurso que circula nas redes, não apenas contra o assédio, mas contra as críticas que mulheres recebem por expressarem livremente seus desejos, especialmente sexuais.

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Influenciadora digital Bianca Andrade foi a primeira mulher eliminada nesta edição do BBB.

Interessante destacar que Lilith em Áries pode provocar situações de violência externa, especialmente conectadas com a sexualidade. Energia e agitação em excesso podem resultar em uma ansiedade por viver tudo que há para viver, no menor tempo possível. No caso em questão, a cena do assédio ocorreu durante uma festa, quando a moça se encontrava bêbada.

É bastante provável que cenas similares já tivessem ocorrido em outras edições do programa, assim como ocorrem em profusão no Carnaval e em qualquer festa. Mas somente agora o tema alcançou a esfera pública para provocar indignação e reação. Em outros termos, apesar da visibilidade promovida pelo programa, somente agora o assédio tornou-se visível.

Violência identitária

Áries é o primeiro signo do Zodíaco e carrega consigo a responsabilidade de começar o ciclo. Capacidade de inovar, pioneirismo, iniciativa, impulso e ação decisiva são características comumente atribuídas aos arianos. Provavelmente, a percepção coletiva sobre o que configura ou não um assédio pode sofrer algumas alterações no período em que Lilith transita por esse signo, rumo a uma percepção mais inovadora sobre o tema.

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O mapa de estreia do BBB 20 traz Marte em Sagitário na Casa III, indicando que agressões podem ser sentidas nas interações sociais e nas formas de comunicação. De qualquer forma, a comunicação sobre os próprios sentimentos e afetos – Lua também estava na Casa III – será algo comum ao longo do programa.

Lilith ainda estava no último grau de Peixes em 21 de janeiro de 2020, e Vênus também transitava pelo último signo do Zodíaco. Ambas estavam na casa VI, influenciando o cotidiano dos participantes juntamente com Netuno – desilusões? – e Quíron – possibilidades de cura? – já estava em Áries.

De qualquer forma, é interessante como a mudança de signo dos dois arquétipos femininos – Lilith entra em Áries em 27 de janeiro, enquanto Vênus em 7 de fevereiro – também modifica o papel das mulheres do BBB: inicialmente, elas pareciam apenas vítimas de uma armação dos homens. Na sequência, por sua própria ação e iniciativa de transparência com as demais, passam a porta-vozes de demandas coletivas conectadas ao feminino.

Nesse sentido, a eliminação de uma participante que coloca em dúvidas o discurso e a honestidade das demais mulheres, participando de várias discussões contra as outras, e que diz não ter se sentido agredida em uma situação de assédio televisionada parece demonstrar que há uma identidade feminina em formação que precisa de vocalização.

É interessante ponderar que, provavelmente, o fato de ela ter um namorado fora da Casa e ter expressado seu interesse sexual por outro homem possa ser a razão mais forte para o público ter votado por sua eliminação. Nesse sentido, o impacto da cultura machista ainda revela sua força na sociedade brasileira. Será que um homem na mesma situação teria sido expulso?

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A influenciadora digital Bianca Andrade e seu namorado, antes do programa.

Racionalidade e equilíbrio?

Sol e Mercúrio já haviam chegado a Aquário no mapa de estreia do programa, trazendo um tom libertário e original para a casa V, da autoexpressão identitária, especialmente conectado ao coletivo. Não espanta que as redes sociais estejam sendo mobilizadas pelas discussões promovidas pelo programa.

O ascendente libriano amplia a busca por equilíbrio, beleza e harmonia, que pode se traduzir nas polêmicas sobre o papel de homens e mulheres dentro da Casa e na discussão ponderada e informada sobre as questões que afligem os participantes. Urano em Touro busca transformações na forma como nos sentimos seguros e estáveis, confortáveis. Na casa VII para o mapa do programa, pode indicar instabilidade e mudanças bruscas nas parcerias.

O stellium capricorniano, por sua vez, trazia Júpiter, Plutão e Saturno agitando a Casa IV. Será que as famílias dos participantes serão impactadas pelo programa? Será que questões antigas e dores conectadas aos pais e irmãos serão trabalhadas por eles na experiência do jogo? Será que eles trarão uma discussão sobre papéis de gênero nas famílias?

Reflexão coletiva

Mas será que isso pode se refletir, de alguma forma, na organização social e política sob qual estamos todos submetidos no Brasil? Afinal, o BBB é apenas um programa de entretenimento produzido pela maior rede de emissoras de televisão do país, muitos dirão. Provavelmente, muitas das discussões promovidas ali podem ser estimuladas pela produção, e não ocorrer de forma espontânea.

Seja como for, tenha o impacto que tiver, é interessante perceber a conexão das celebridades digitais a bordo do BBB 20 com as questões que afetam o feminino nesse particular momento histórico do Brasil. Não acredito que haja coincidências nesse processo. Ao contrário, creio numa confluência que fatores que tornam tais questões mais visíveis, pelo simples fato de que estamos, como sociedade, mais dispostos a vê-las.

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Lilith em Áries quer demonstrar seu potencial de luta e ação. Na imagem, a atriz Danai Gurira caracterizada como Okoye, a líder das guerreiras Dora Milaje no filme Pantera Negra.

Se Lilith, assim como Marte ou o Sol, pode ser estimulante, impulsiva, corajosa, guerreira e lutadora, a passagem da Lua Negra por Áries pode ser o estopim de um novo processo de inclusão desse arquétipo no inconsciente coletivo.

Se aceitarmos que Lilith deseja ardentemente ser ela mesma, tanto quanto seus companheiros masculinos, e ouvirmos o que ela tem a nos dizer, talvez deixemos de ser tomados por sua força pulsional com tanta frequência. Afinal, como sempre ressalta o mestre Maurice Jacoel, Lilith é um arquétipo que negocia, com o qual podemos nos conectar.

O ponto aqui é que a visibilidade do desconforto, da agressão, da violência cometida contra o feminino pode nos trazer à consciência a necessidade de sua ação, de seu impulso, de sua força, coletiva e individual, como forma de alcançar o equilíbrio e a harmonia, tanto interna, quanto externa.

Se conseguirmos realizar coletivamente essa tarefa com mais facilidade, todos os cliques e visualizações dos perfis das influenciadoras digitais do BBB 20 terão valido a pena.

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