Eu prometi a mim mesma que não ia entrar nessa treta. Que ia ler e deixar passar o festival de críticas baseadas em desconhecimento que o Facebook compartilha todos os dias. Mas aí, o assunto chega à mídia, vira tema de reportagem, motiva uma enxurrada de comentários num grupo de uats formado por astrólogos, uma série de comentários lacradores por parte dos colegas cientistas sociais.
E eu me vi submersa na polêmica.

Essas linhas são, portanto, apenas tentativas de emergir com algum sentido pessoal dessa discussão sobre o status da Astrologia e se ela pode ou não ser usada em seleções de emprego. Uma questão de fundo, contudo, parece ser: qual a função da Astrologia nos dias atuais?
Pensei, inicialmente, em escrever apenas para os colegas astrólogos. Depois pensei que seria mais produtivo tentar conversar com os cientistas. Ou com os jornalistas. Não consegui decidir e, muito provavelmente, não falarei com ninguém. Talvez, apenas com aqueles que dividem comigo essa dupla cidadania…
Mas… o que é uma boa treta e o risco de ser incompreendida publicamente para alguém com Sol, Lua e Vênus em Áries na Casa XI, não é mesmo? (Por favor, não alfabetizados em Astrologia, vejam lá embaixo alguns possíveis sentidos disso.)[1]
Então, querid@ leitor@, se você não entender algum parágrafo, provavelmente é apenas porque o registro dele está direcionado para o público do qual você não faz parte. Sem estresse. Não é sua obrigação entender. Eu gostaria de ter a habilidade de traduzir a linguagem de um grupo para o outro, e fazê-los conversar sem dogmatismo, mas confesso que não me acho capaz disso.
Tá, mas então pra que serve esse texto? É um desabafo. E vocês hão de me conceder esse direito no meu blog, né?
Onde está a novidade?
Resisti a entrar na discussão, ao ver a polêmica sobre a matéria da BBC “Quiseram fazer meu mapa astral na entrevista”: quando o signo vira critério para conseguir emprego” mobilizar um grupo de uats formado por colegas astrólogos. Na matéria, um jovem relata que há três anos, ao fazer uma seleção pruma vaga de emprego – que ele, aliás, conseguiu! – perguntaram sua data de nascimento para saber qual o seu “signo”.

Na sequência, porém, uma série de comentários nas redes sociais me fizeram pensar sobre o que está, afinal, em discussão aqui. E porque um veículo de mídia decide fazer uma matéria sobre um caso que se passou “há três anos”, quando sei que a novidade é o motor principal do Jornalismo. A título de informação ao leitor, sou jornalista formada e exerci a profissão por 14 anos.
Entre outras coisas, li na matéria e no Facebook que o fato seria a prova de que a Astrologia “não é só uma bobagem inofensiva, sem consequências”, que o questionamento sobre o signo solar do candidato à vaga “fere a meritocracia”, que “processos seletivos não podem ser baseados em superstições” e que “informações consideradas místicas” não podem ser usadas em entrevistas de emprego. Todas essas afirmações foram feitas por cientistas sociais, categoria na qual me incluo (sou pós-doutora em Ciência Política).
Aqui faço um comentário sobre o status da Ciência Social frente às Ciências Naturais, e o quanto Antropologia, Sociologia, Economia, Comunicação e a própria Ciência Política lutaram, enquanto campos de conhecimento, para afirmar seus métodos e terem reconhecido seu caráter científico pelos colegas biólogos, químicos, físicos, matemáticos etc. Isso seria assunto para outro post, mas creio que esse ponto tem repercussões sérias sobre o fato em questão. Tentarei explicar mais adiante.
Poder Simbólico
De qualquer forma, meu esforço aqui é para situar a Astrologia dentro de um grande campo de “interpretações” sobre a realidade que pode incluir a Ciência, o Jornalismo, a Religião e a Mitologia. Cada um desses sistemas simbólicos – que se destinam a explicar e a nomear a realidade social – tem regras, critérios e uma linguagem própria, portanto. Que servem, basicamente, para dizer que a sua explicação do mundo tem mais validade que as explicações alternativas.
Uso aqui o conceito de Pierre Bourdieu de poder simbólico (2006, p.14):
O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graça ao efeito específico de mobilização, só se exercer se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário (grifo no original).
Talvez o que me espante mais nas críticas contemporâneas direcionadas à “falta de cientificidade” da Astrologia seja exatamente que elas sejam feitas por cientistas sociais, que participam de campos do conhecimento que já usaram do argumento do poder simbólico como forma de legitimidade de suas metodologias “qualitativas”, isto é, interpretativas. Que eram – e ainda são, em boa medida – consideradas não científicas pelos cientistas das chamadas Ciências Naturais.
Tradução simultânea
Peço ao leitor, então, empatia para compreender o duplo movimento epistêmico que faço aqui. Por um lado, reivindico a cientificidade da Ciência Social, inclusive das disciplinas da Comunicação e da Ciência Política, nas quais me incluo como pesquisadora, e a validade dos métodos qualitativos de apreensão da realidade social.
Etnografia, análise de discurso, análise de conteúdo, entrevistas em profundidade, process tracing, entre outros, são formas científicas de analisar os fenômenos sociais. Apesar de sua carga subjetiva e interpretativa inerente. Até mesmo porque, como o comprovaram Einstein e Heisenberg, o princípio da incerteza, entre outras coisas, sugere que o lugar do observador interfere na forma como ele observará o fenômeno. E isso ocorre, inclusive, nas ciências ditas naturais, nas quais os fenômenos observados independem da vontade humana.

Por outro lado, reivindico o reconhecimento da Astrologia como um sistema simbólico, dentre outros – e poderíamos aqui citar a Mitologia, a Religião, a Psicanálise, a Literatura etc. – válido para explicar os fenômenos psíquicos inerentes ao humano. Afinal, como já assinalavam Freud e Jung, “as realidades simbólicas são tão importantes para a natureza humana quanto as realidades físicas” (Guttman & Johnson, 2005, p.19).
Para mim, é bastante surpreendente que isso ainda precise ser destacado em pleno 2020, depois de toda a discussão pós-estruturalista e pós-modernista que as ciências sociais realizaram durante o século XX, em boa parte motivadas pela Psicologia, Antropologia e pelos Estudos Culturais.
Mitologia e Astrologia
Afinal, em 1949, Joseph Campbell já escrevia sobre o tema:
O intelectual moderno não encontra dificuldades em admitir que o simbolismo da mitologia se reveste de um significado psicológico. Está fora de dúvidas, especialmente depois do trabalho dos psicanalistas, que tanto os mitos compartilham da natureza dos sonhos, quanto os sonhos são sintomáticos da dinâmica da psique. Sigmund Freud, Carl G. Jung, Wilhelm Stekel, Otto Rank, Karl Abraham, Géza Róheim e muitos outros desenvolveram, nas últimas décadas, um moderno corpo, vastamente documentado, de interpretações de sonhos e mitos; e, embora tenham desenvolvido trabalhos que apresentam amplas divergências entre si, esses doutores se unem num grande movimento moderno por meio de um considerável conjunto de princípios comuns. Com a descoberta de que os padrões e a lógica do conto de fadas e do mito correspondem aos do sonho, feita por eles, as quimeras há muito desacreditadas do homem arcaico voltaram, de modo dramático, ao plano principal da consciência moderna. (…) Em outras palavras, a mitologia é a psicologia confundida com biografia, história e cosmologia (Campbell, [1949] 2007, p.251).
Não à toa, um dos expoentes da Psicologia no início do século XX, Carl Jung recorreu à Astrologia – e a outras tantas mitologias antigas – para encontrar explicações para o fenômeno que denominou de Inconsciente Coletivo. Não é necessário concordar com a teoria junguiana de explicação da psique humana para compreender o paralelo entre Astrologia e Mitologia, expressa inclusive nos nomes dos planetas que nos circundam.
Aliás, nomes que a Astronomia contemporânea mantém em relação aos astros que acompanham a Terra no sistema solar, já mapeado por cálculos desde a Antiguidade e confirmado pelos telescópios e sondas espaciais recentes. Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno têm os mesmos nomes desde que os povos antigos assim os nomearam. E Urano, Netuno, Plutão e Quíron receberam seus nomes seguindo a mesma lógica mitológica greco-romana.
Camadas de Interpretação
Se a Astrologia é um sistema simbólico de explicação da psique, não faz sentido falar em “pseudociência” para um campo que, majoritariamente, nunca se preocupou em provar seu status metodológico ou científico, conforme o modelo positivista do século XIX. Assim como a Literatura não se pretende científica, ainda que os Estudos Literários desenvolvam métodos de abordagem sistemáticos.
A Astrologia é uma linguagem, e como qualquer linguagem, submetida a regras coletivas de interpretação e atribuição de sentido. Ainda que o “falante” tenha liberdade criativa na combinação dos elementos linguísticos e possa, em alguns momentos, criar neologismos, não é tudo que vale, porque ele precisa respeitar as regras da comunidade na qual está inserido para produzir o sentido.

Ou seja, há um método preferencial de combinação dos símbolos. E vejam bem: a Astrologia lida, especificamente, com SÍMBOLOS culturalmente relacionados aos signos. Ou seja, há uma cadeia de sentidos embutida em cada símbolo, porém, cada falante tem espaço para incluir neles suas próprias elaborações.
Reforço que essa é a minha visão particular da Astrologia, que provavelmente não é compartilhada por todos os astrólogos. Por isso, na minha visão, não faz sentido algum falar dogmaticamente do Destino da mesma forma com os antigos falavam. A nossa representação das estrelas e do seu significado mítico compartilha de uma origem comum, mas camadas diferentes de significados culturalmente atribuídos foram sendo superpostas a cada símbolo.
Saturno, para nós, não significa mais a mesma coisa que significava para Ptolomeu. Ou para John Dee, astrólogo da Rainha Elizabeth I. Exatamente porque já passamos e incluímos elementos da construção simbólica sobre a psique feita pela Psicanálise, pela Antropologia, pela Sociologia etc.
Qual é a questão, afinal?
Na matéria citada, as seguintes passagens são exemplares do argumento que estamos tentando construir:
Há quem considere a astrologia uma “pseudociência”. Ela não é classificada como ciência, no sentido positivista, porque não se pode reproduzir experimento controlado em laboratório. Para Abramo, porém, isso não reduz a importância do tema, pois ela afirma que se trata de um corpo de conhecimento que tem como base o saber acumulado. “O amor ou a arte, por exemplo, também não são ciências”, justifica.
(…) Porém, ele argumenta que não há experimentos, do ponto de vista científico, que atestem que a astrologia funciona para definir as características de uma pessoa.
(…) Na psicologia há métodos científicos, baseados em estudos, para avaliar um candidato. Mesmo assim, a gente revê os perfis das pessoas e há discussões sobre esses métodos.
Conforme argumentamos acima, se a própria Ciência Social, incluída aí a Psicologia, é passível de uma dimensão interpretativa ou subjetiva – como lembram os entrevistados ao mencionarem a possibilidade de revisão e discussão sobre as formas de avaliação psicológica -, contrariando o princípio positivista de separação completa entre objeto e sujeito observador, por que a Astrologia é criticada por não ser “exata”?
Eu acrescentaria que quase nenhum método de observação da realidade social é passível de “reprodução em laboratório”, exatamente porque trata da realidade social. São, então, menos científicos? Por que seriam necessários experimentos científicos para “comprovar” que a Astrologia funciona? Aliás, o que significa “funcionar” para a Astrologia?
Fazendo funcionar
Não acredito, pessoalmente, que a Astrologia seja uma ferramenta eficiente para “prever o futuro”, segundo a crença do senso comum de que ela funciona como um oráculo. (Aqui, inevitavelmente, começarei a ser criticada por vários dos meus pares astrólogos… Paciência.) Apesar de eu achar que ela pode servir como um oráculo, tenho uma concepção de que qualquer oráculo nada mais é do que uma forma de nos comunicarmos com o nosso próprio inconsciente.

Em outras palavras, os oráculos são ferramentas de autoconhecimento, não de previsão. Até porque, como já discutiram incansavelmente a Filosofia e a Ficção Científica, saber das possibilidades sobre o futuro não é uma forma de nos ajudar a decidir quais as melhores decisões tomar? E a partir dessas decisões, modificar essas mesmas possibilidades?
Por isso, na concepção da Astrologia Psicológica à qual me filio, não faz sentido prever para o cliente se ele poderá se casar ou apenas vai comprar uma bicicleta no próximo ano. Simplesmente, porque além de poder fazer as duas coisas, ele pode decidir que não quer nenhuma das duas, mesmo que no seu mapa apareça o arquétipo que busca a formação de parcerias de forma pronunciada naquele período.
Mas criatura, o que faz um astrólogo, então? Ao ler o mapa natal, interpretamos possibilidades psíquicas, possíveis caminhos de crescimento pessoal, características que podem ter sido desenvolvidas enfaticamente naquela personalidade por conta das condições de vida enfrentadas ou, ao contrário, duramente reprimidas. Criamos um diálogo com o cliente sobre a mitologia pessoal dele – algo próximo, mas não igual, à interpretação dos sonhos.
Simbolicamente, construímos uma tradução do mundo psíquico a partir dos arquétipos presentes na Carta. É uma construção simbólica, e como tal, suficientemente ampla para abarcar as diferentes possibilidades que a pessoa colocou em evidência ou camuflou. E como o nome diz, é apenas um MAPA. Ninguém é obrigado a trafegar por todas as suas avenidas, ruas ou vielas.
Simplificação ou mistificação?
O leitor perspicaz já percebeu, portanto, que a leitura de um mapa natal vai muito além da indicação da simples posição, por signo, de onde estava o Sol no momento de nascimento da criatura. Isso, quase todos nós já sabemos apenas pela data de nosso nascimento – cuidado, alguns nascidos em dias limítrofes podem achar que têm o Sol em um signo, mas ele está em outro!

Ainda que essa simplificação tenha tido algumas funções históricas de preservar o conhecimento astrológico em tempos adversos – por exemplo, em épocas de perseguição religiosa contra astrólogos – ou de possibilitar o seu usufruto por leigos, ela colabora para os ataques não fundamentados contra a Astrologia.
Canso de ouvir amigos me dizerem: “nossa, nasci em março, mas não tenho nenhuma característica de Peixes, isso é a prova de que Astrologia não funciona”. Ou: “como está o ano para os taurinos?”. Ou ainda: “como que duas pessoas nascidas no mesmo dia não tão diferentes?”.
A resposta a essas perguntas é a mesma: o mapa é individual, assim como também é individual o uso que o próprio sujeito fará de suas possibilidades. E nesse sentido, nascidos gêmeos podem desenvolver estratégias bastante diferentes – e até mesmo opostas! – de aproveitamento das mesmas energias psíquicas. O mapa não é um condicionante para o destino. É uma trajetória a ser percorrida, com diferentes estradas e caminhos.
Cientificismo forçado
A separação entre Astronomia e Astrologia na Idade Moderna, a partir do princípio positivista de que ciência é um método de MEDIR algo da realidade, fez com que a interpretação simbólica do fenômeno astronômico fosse desvinculada de sua análise física.

Passamos a estudar os planetas apenas para ver como eles nos afetam fisicamente – gravidade, características e organização do sistema solar, condições ambientais para a vida humana etc. E deixamos de fora a parte que nunca pôde ser medida: a influência simbólica que Saturno exerce na psique humana por ter anéis e ser o último planeta visível a olho nu, por exemplo.
Creio que esse fenômeno é, em parte, responsável também pela simplificação e pela necessidade social de ver uma utilidade prática, uma função a ser cumprida com exatidão por qualquer campo de conhecimento e produção simbólica.
Mas como assim não pode prever com exatidão o futuro? Ah, então não serve para nada, diriam economistas e cientistas políticos que veem suas teorias exatas e estatísticas de previsão sobre o contexto brasileiro desmoronar a cada semestre. Serve tanto como a Economia e a Ciência Política, diria eu. Para coisas diferentes, entretanto.
Mas se é a intenção da Astrologia descrever e analisar as influências simbólicas que o Cosmos tem sobre nossa psique, por que as críticas a ela são direcionadas por integrantes de outros campos de conhecimento que também lidam com a interpretação dos fatos e fenômenos da realidade social sobre o humano?
Descrença generalizada
Acredito que o panorama contemporâneo de descrença e questionamento dos discursos simbólicos – incluídos aí a Política, a Ciência e o Jornalismo, entre outros – seja um componente importante para a acidez das críticas. E percebem que os três campos defendem suas narrativas a partir do argumento da objetividade, isto é, da separação do observador do diagnóstico que faz da realidade social.
Ao defenderem de forma dogmática as formas e critérios de construção do conhecimento de seus campos, os detratores da Astrologia estão, no fundo, se defendendo das críticas de que integram campos sem “credibilidade” e que não têm legitimidade para interpretarem a realidade social.

Quando o cidadão comum diz que não confia mais nos jornalistas, nem nos cientistas – vide as campanhas massivas de desinformação sobre vacinas, por exemplo – e muito menos nos políticos, são os critérios de interpretação da realidade desses campos que estão em jogo. Assim, conceder legitimidade a um outro campo de produção simbólica – que tem critérios que não são objetivos! – seria visto como um crime pelos integrantes de áreas que estão, em si mesmos, ameaçadas de deslegitimação.
E aí? Alguma conclusão?
Dessa forma, astrólogos, profissionais ou não, competentes ou não, são igualados a místicos, mágicos, falsos profetas e charlatões. Como se estivessem o tempo todo tentando igualar os critérios e métodos de interpretação da realidade propostos pela ciência e naufragassem nessa tentativa.
De minha parte, não tenho nenhuma contradição interna em exercer diferentes papeis – pesquisadora de Ciência Política, professora, comunicóloga, astróloga – em diferentes campos de produção simbólica. Exatamente porque, para mim, eles são diferentes formas de interpretar a realidade dos humanos, cada um com suas regras e valores. Tampouco acho que seja um problema ter crenças religiosas e, ao mesmo tempo, buscar na Ciência explicações válidas para o mundo social, como alguns comentários parecem indicar.
Como agnóstica, não professo nenhuma religião, não sou mística, prefiro duvidar de todas as explicações, mas sem criticar quem nelas acredita. É somente uma suspensão de julgamento, mesmo. Não tenho experiências pessoais que me levem a crer em determinados fenômenos místicos, mas não duvido que outras pessoas tenham tido.
E, acima de tudo, não duvido do potencial psíquico humano de produzir tais fenômenos, sejam quais forem os nomes que possamos dar a eles. Em outros termos: a realidade simbólica É uma realidade da vida humana, do meu ponto de vista. E a Astrologia é apenas mais um método de descrevê-la. Nem melhor, nem pior que outros.
Sobre a polêmica em questão: a Astrologia é um método legítimo para seleção de candidatos a uma vaga de emprego? Depende. Da visão que a própria empresa/empregador/contratador tenha sobre a Astrologia. Se os objetivos são ampliar a harmonia entre as equipes e melhorar o relacionamento entre os trabalhadores, eu poderia ser, por princípio, favorável à realização do mapa, de forma não obrigatória, é claro, visto que são dados pessoais.

Como duvido muito de que a maioria das empresas ou empregadores tenha isso em mente, para além de alguns estereótipos sobre a posição do Sol das pessoas e da necessidade de eliminar alguns candidatos por critérios que passam longe das habilidades ou formação curricular, não aceitaria assumir tal tarefa.
De qualquer forma, empresas usam critérios subjetivos o tempo todo para eliminar candidatos, critérios que não têm nada a ver com mérito ou simples aptidão para as tarefas – cor, aparência, idade, gênero, estado de saúde, teste de QI etc. Assim como conheço pessoas que conseguiram na Justiça sua nomeação em cargos públicos alegando subjetividade na avaliação psicológica à qual foram submetidas, creio que o mesmo argumento possa ser usado em relação à Astrologia.
Ou seja: estamos realmente discutindo apenas a Justiça ou adequação do uso da Astrologia em seleções de emprego? Ou queremos discutir a Justiça na forma como as seleções possam ser feitas? Ou estamos questionando a legitimidade da Astrologia como produção simbólica sobre o mundo?
Referências
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, [1989] 2006.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, [1949] 2007.
GUTTMAN, Ariel; JOHNSON, Kenneth. Astrologia & Mitologia. Seus arquétipos e a linguagem dos símbolos. São Paulo: Madras, 2005.
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[1] Sol = consciência, identidade. Lua = lado emocional, subjetividade. Vênus = busca por satisfação e amor. Áries = primeiro signo do Zodíaco, tem como símbolo o Carneiro, e pode ser resumido pelas características de velocidade, agitação, atividade, inícios, combate e conflito. Casa XI = área da vida representada pelos grupos, pelos coletivos dos quais fazemos parte, nossa participação na comunidade.