Apertem os cintos, navegantes do Planeta Terra. Neste sábado, 27 de junho, às 22h46 no horário de Brasília, o planeta Marte reinicia o seu ciclo chegando ao grau Zero de Áries, seu domicílio diurno. É possível que todos nós sintamos o impacto da aceleração provocada pelo Deus da Guerra em seu retorno triunfal ao signo do pioneirismo e da competição.
Este não é um retorno qualquer, afinal Marte rege Áries e sua energia fica bastante disponível quando ele está neste signo. Além disso, contrariando o que normalmente acontece – Marte passa de um mês e meio a dois meses em cada signo – o planeta permanecerá por seis meses na sua casa, confortavelmente instalado em seus domínios quentes e secos até 6 de janeiro.

Isso se deve ao seu processo de retrogradação, que se iniciará em 11 de setembro e durará até 15 de novembro – percebem o simbolismo das datas? Para completar, Marte entra em Áries durante uma Lua Crescente, o que também indica a energia para a ação do período. E no mapa para Brasília, Marte está na primeira casa da Mandala, reforçando seu posicionamento de liderança e impulso para a iniciativa.
Ação impulsiva
Não adianta querer ficar parado nos próximos meses, portanto. A energia que o céu está nos enviando trará impaciência, truculência e até mesmo violência, caso não seja usada com firmes propósitos e sabedoria. Marte para os romanos, ou Ares para os gregos, o planeta da guerra reflete a vitalidade física, a motivação interna e impulso para a ação rápida e decisiva.
A boa notícia é que Quíron também está em Áries e auxiliará na busca de curas inovadoras e novos processos terapêuticos. Aliás, essa talvez seja a real batalha a ser travada neste momento da humanidade: como encontrar a cura para a pandemia que nos aflige?
Energia e persistência para realização dos desejos são atributos de Marte que conduzem à individualidade. E também nos protegem de ameaças e agressões externas. É uma boa hora para arregaçar as mangas e tirar os projetos estagnados da gaveta, tomando iniciativas e direcionando a nossa ação para a consecução dos nossos objetivos.

Mas, e o lado negativo dessa energia ariana? Impulsividade pode ser a tônica do mês de julho. Ações impensadas, agressões verbais e físicas, excesso de atividades e impaciência podem surgir, dificultando, por exemplo, o cumprimento do isolamento social no qual ainda nos encontramos no Brasil.
O “impulso dos instintos” pode ser mais forte, levando alguns a ações impensadas das quais eles vão se arrepender, ou que precisarão consertar durante o período de retrogradação do planeta. Robert Hand lembra que a “agressão excessiva não é nada mais do que uma superabundância de energia vital, que sente como se precisasse controlar tudo à volta” (1981, p.62).
Até onde vamos em nossas tentativas de controle sobre a nossa própria vida? E sobre a vida dos outros?
Egoísmo e individualidade
Interessante perceber que a oposição de Marte com a Lua libriana da Casa VII pode trazer dificuldades para os relacionamentos e parcerias. Discussões, brigas, disputas de poder podem surgir, motivadas, em boa parte, por uma falta de sensibilidade aos desejos e necessidades do outro.
A impulsividade de Marte repousa no fato de que ele sempre quer ser o primeiro em tudo. Assim, os arianos, regidos por esse planeta, geralmente são velozes e competitivos, pois gostam de ser pioneiros, explorar territórios desconhecidos e enfrentar desafios que os outros consideram impossíveis de vencer.
Porém, se você enxerga todo mundo como competidor, pode ser bastante difícil a convivência íntima, com suas concessões e negociações constantes para adaptação mútua dos parceiros. É interessante, portanto, pensar em iniciativas que possam ser incluídas na agenda daqueles com quem temos relacionamentos significativos e, especialmente, afetivos.
Além da oposição com a Lua, no momento em que chega a Áries, Marte faz uma quadratura com o Sol e Mercúrio em Câncer. Isso pode indicar que nossa expressão individual pode ser dificultada nesse período, principalmente por reações altamente emocionais e por uma defensividade exagerada que nos afasta dos outros.
Será que os demais estão se opondo às nossas ações impulsivas apenas porque estão contra nós? Ou será que nosso excessivo individualismo não nos permite ver que há outros interesses e demandas, além dos nossos, que precisam ser considerados no processo? Será que estamos pensando apenas em nossos desejos imediatos, sem levar em conta as consequências de nossos atos em relação aos outros?
Processos coletivos
Netuno em Peixes na Casa I também indica que pensar nos outros pode ser, de alguma forma, o impulso que precisamos para definir novas formas de ação e pensamento. A quem podemos servir? Nossas ações podem auxiliar a mais alguém? Como podemos ser líderes positivos e construtivos para aqueles que necessitam de liderança?
Em outros termos: queremos ser guerreiros, mas em nome de quais causas vamos lutar? Seremos cavaleiros dispostos a defender alguns reis despóticos e arrogantes, ou lutaremos contra as injustiças cometidas contra os nossos companheiros de jornada?
Vale lembrar ainda que Lilith também está em Áries e na Casa I do mapa para Brasília. Nossa consciência das batalhas que precisamos travar – internamente, talvez? – está sendo ativada. Quais são os processos de injustiça e desigualdade que percebemos no mundo e que nos afligem? Que situações nos levam ao embate com os outros e conosco mesmos?

O bom aspecto de Marte com a grande conjunção na Casa XI – Plutão e Júpiter em Capricórnio, Saturno em Aquário – torna os próximos seis meses uma época interessante para projetos coletivos que levem em conta o bem comum, não apenas o ganho pessoal. Colaborações, iniciativas coletivas e dos grupos dos quais participamos podem receber um bom impulso de estruturação.
Da mesma forma, iniciativas comunicativas e de aprendizagem podem ser favorecidas pelo bom aspecto com Vênus em Gêmeos na Casa III. Compartilhamento de informações e novos processos de ensino podem ser boas estratégias para estimular projetos pessoais mais afinados com as necessidades do grupo e da sociedade.
Estratégia para sobrevivência
Essencial lembrar ainda que durante o mês de agosto e novamente em dezembro, Marte fará consecutivas quadraturas com os planetas envolvidos na grande conjunção. De 30 de julho a 4 de agosto, a primeira quadratura será com Júpiter, e é bom ter cuidado com uma expansão descontrolada de nossos desejos nesse momento.
Entre 13 e 16 de agosto é a vez de Plutão ativar Marte por meio de uma quadratura, enquanto Saturno desafia a impulsividade marciana entre os dias 23 e 28 do mesmo mês. Cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém, por isso talvez seja interessante ter em mente que eventuais atrasos em nossos planos podem significar apenas um tempo maior para que eles sejam amadurecidos e possam ser realizar com mais qualidade.

Nesses períodos, o potencial de conflito público pode estar ampliado, instituições sociais e políticas podem ser desafiadas e o poder massivo das multidões pode representar risco, violência e destruição em alguma medida. Ter isso em mente pode nos proteger de um envolvimento excessivo e inconsciente com esses movimentos de massa.
Talvez a questão seja como combinar a iniciativa marciana com a estratégia saturnina, tendo em conta que a expansão e o crescimento promovidos por Júpiter precisam encontrar limites práticos. Esforços em prol do coletivo podem auxiliar os empreendedores, enquanto ações totalmente individualistas podem acabar não surtindo os efeitos desejados.
Enfrentar o medo
Sendo o responsável pela função psíquica da sobrevivência, Marte governa os sentidos e a cabeça. Segundo Alan Leo, a missão de Marte é a luta, o combate, a batalha para permitir o progresso real, a evolução.
Como destaca Carlos Hollanda, Marte em Áries é “imparável” na busca de soluções para os problemas, seus e dos outros. Assumir riscos, aceitar desafios e tomar a iniciativa para propor alternativas é uma forma construtiva de utilizar essa energia vital. Afinal, quando bem aspectado, Marte é generoso, valente e corajoso (Leo, 1993).
Obviamente, Marte também pode ser cruel, intrigante e tirânico quando mal desenvolvido. Por isso, os próximos seis meses são uma época propícia para colocar novos projetos em ação, para tentar resolver questões pendentes, buscar novas formas de ação em nossas atividades cotidianas e vocacionais.
Esse é um momento de “colocar a mão na massa” e enfrentar o medo que os desafios geram. Afinal, a coragem de Marte não consiste em ignorar o medo, mas fazer dele um aliado potente. Afinal, Ares foi o amante de Afrodite, a Deusa do Amor, com quem teve os filhos Deimos (Medo) e Phobos (Pânico), que sempre o acompanhavam nos campos de batalha.

É provável que os verdadeiros líderes sejam desafiados a agir em prol da comunidade nesse período, como sugere Hollanda. Criatividade, inovações e a vanguarda para desenvolver novos processos podem ser estimulados.
Ao mesmo tempo, as falsas lideranças muito provavelmente acabarão atuando de forma impulsiva, autoritária e com explosões emocionais e ataque de fúria. Todas essas expressões desagradáveis de Marte podem precisar de revisão durante o período de retrogradação. Retratações públicas são uma possibilidade.
Liderança ativa
É interessante perceber como essa energia será mobilizada dentro de cada um de nós. Teremos serenidade para aproveitar o estímulo de Marte com honestidade, autenticidade e objetividade para agir em benefício do coletivo? Ou atuaremos de forma emocional, impulsiva, irracional em busca de nossos próprios desejos, custe o que custar?
Vamos estimular nossas explosões emocionais que podem ferir os outros e a nós mesmos? Ou vamos aproveitar de forma criativa essa energia de ação para solucionar problemas práticos de forma objetiva e corajosa? Vamos tentar impor nossas vontades aos outros? Ou vamos construir soluções conjuntas para problemas que são comuns?

Talvez o maior desafio proposto por Marte em Áries durante o ano de 2020 seja nos fazer pensar contra quem e contra o que estamos declarando guerra. Esses objetivos atendem aos anseios da nossa alma? Ou somente nos levam por um caminho de violência e destruição?
Saber escolher os combates necessários é uma qualidade daqueles que realmente exercem liderança e comando, daqueles que sabem decidir de forma rápida, assertiva e vigorosa. De pessoas com espírito independente e autônomo. Afinal, coragem e capacidade de afirmação são exemplos que os demais seguem por livre e espontânea vontade. Não precisam ser impostos.
Marte em Áries odeia todas as formas de falsidade e hipocrisia. E sabe que a melhor forma de liderar ainda é o exemplo.
Que tenhamos bons exemplos para seguir. Que sejamos bons exemplos para os outros. À luta!
Referências
GREENE, L.; SASPORTAS, H. A Dinâmica do Inconsciente. Seminários sobre Astrologia Psicológica. São Paulo: Pensamento, 1995. 10ª edição.
GUTTMAN, A; JOHNSON, K. Mythic Astrology Applied. Personal Healing through the Planets. St. Paul/Minnesota: Llewellyn Publications, 2004.
GUTTMAN, A.; JOHNSON, K. Astrologia e Mitologia. Seus arquétipos e a linguagem dos símbolos. São Paulo: Madras, 2005.
HOLANDA, Carlos. Marte em Áries. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ClGyUt4uIro
LEO, A. Marte. O Senhor da Guerra. São Paulo: Pensamento, 1993.
LISBOA, C. Os astros sempre nos acompanham. Um manual de Astrologia Contemporânea. Rio de Janeiro: Best-seller, 2013. 1ª ed.
MIKLOS, Jorge. Ares: Deus da Guerra – Guerreiro, dançarino e amante. Curso As múltiplas faces do masculino. Instituto Freedom. Acessado em 24/04/2020.
4 respostas para “Marte em Áries indica o momento de ser o melhor exemplo daquilo que se deseja”