2020 começou com a turbulência trazida pela conjunção de Saturno e Plutão em Capricórnio: ameaças de ataques nucleares, confusões entre subordinados e autoridades, e um ar depressivo que pegou algumas pessoas de surpresa. Mercúrio e o Sol chegaram a Aquário na última semana para aliviar um pouco a tensão. Mas o final de janeiro ainda reserva algumas surpresas para nós.
Hoje (27/01), às 4h37 da manhã no horário de Brasília, Lilith chegou ao grau zero de Áries, deixando a temporada pisciana e esquentando de vez o caldeirão astral. O que podemos esperar dos próximos nove meses, em relação à expressão desse feminino que não se curva?

Como mostra o mapa para o momento da entrada da Lua Negra em Áries, as casas I, II e III estarão enfatizadas para o Brasil. E isso nos leva aos seguintes pontos: 1) identidade em transformação profunda e estruturação, 2) valores de inovação, liberdade e originalidade em alta, e 3) novas possibilidades de cura por meio da comunicação não violenta e afetiva, especialmente sobre os próprios sentimentos.
É provável, portanto, que os próximos meses tragam situações coletivas ou individuais inusitadas, inesperadas ou simplesmente diferentes do que estamos acostumados e que nos levem a rever nossos valores, especialmente em termos de recursos próprios e auto-confiança. É possível que sejamos convocados a pensar sobre as formas como estamos comunicando aos outros o que somos.
De que forma podemos mostrar nossa personalidade sem agredir aos demais? Por que algumas pessoas se sentem ofendidas ou ameaçadas pelo que somos? Por que eu me ofendo ou me sinto agredido pelo que os outros são? Talvez esses sejam pontos importantes de reflexão para todos nós.
Impulso para comunicar
A experiência de Lilith nos signos cardinais como Áries – aqueles que iniciam as estações do ano – é sempre bastante crua. No primeiro signo do Zodíaco, a Lua Negra pode resvalar para a agressividade e para reações impulsivas e até mesmo violentas. Exagero, competição, risco, perigo e luta são palavras importantes para esse posicionamento.
Contudo, como a Lua Negra nos revela um ponto de inversão, de frustração no mapa, pode haver “falta de EU” quando ela está em Áries, ou seja, a identidade é algo que não parece estar totalmente elaborada. Em outros termos, Lilith em Áries pode se expressar pelo excesso ou pela completa falta de afirmação pessoal.

Presente na Casa III do mapa desenhado para Brasília, é provável que Lilith enfatize a realização através da palavra. Novos jeitos de dizer as mesmas coisas podem ser criados. Novos idiomas podem ser aprendidos. Novas formas de interagir com os outros a partir do que somos internamente.
Acrescente-se que Marte, o dispositor de Áries, está em Sagitário, apontando para a Justiça, para a lei, para metas de longo prazo e para os contatos com o estrangeiro. Temos, portanto, uma oportunidade de sermos mais assertivos sobre o que realmente importa para nós, em termos de relações sociais, de aprendizagem e de comunicação.
O perigo, contudo, é que tanta ação e assertividade sejam voltados para o inconsciente coletivo ou fiquem completamente escondidos de nós mesmos, visto que Marte está na Casa XII. Será que sabemos quais são os nossos valores essenciais? Temos noção dos nossos recursos internos? Podemos mostrá-los ao mundo, ou estamos sendo ameaçados por isso?
Isso pode significar que, na ânsia de comunicar os nossos desejos para os outros, acabemos presos na enxurrada de mensagens e falsas informações que compõem o cenário contemporâneo. Ou que simplesmente não seja possível dizer com clareza quem somos e quais são nossos recursos. Nessa situação, o que falarmos não será compreendido. E, se o for, não será aceito. Ou ainda, poderá ser usado contra nós em determinadas situações e por determinadas pessoas.
Identidade em questionamento
O sextil que Lilith recebe do Sol aquariano indica que um ciclo pode estar sendo finalizado, abrindo oportunidade para um recomeço. Podemos estar em meio a uma crise coletiva de identidade, questionando nossos propósitos de vida, quem realmente somos e o que realmente desejamos do futuro.

Apesar do Sol estar na Casa I, indicando que a liberdade de sermos quem somos será algo importante nesse ciclo, esse aspecto com o Sol pode nos impedir de vermos com clareza de onde viemos, quem são nossos antepassados, como nossos pais se comportavam. Podemos invalidar as figuras paternas, ou elas serão tão poderosas que não conseguiremos ver seus defeitos.
Esse pode ser um período mais problemático para os homens, que podem ficar sem uma percepção clara do masculino e acabam buscando se manter em posições inferiores. Para as mulheres, dependerá dos aspectos que elas próprias têm em seus mapas. Podem questionar essa figura de autoridade ou buscar companheiros que se enquadrem nesse perfil.
A questão de Lilith em Áries é que a memória do calor materno pode ser muito violenta, por conta de raiva ou beligerância que não foram expressas pela mãe durante o período de gestação. Isso gera um sentimento de tudo ou nada na pessoa que tem esse posicionamento, pois há a sensação de uma eterna luta pela sobrevivência.
Agressividade contra quem?
Nesse sentido, quem tem Lilith em Áries pode produzir situações de violência externa contra si mesmo ou acidentes, de alguma forma somatizando internamente essa violência. A exagerada tensão interna leva o indivíduo a não ter noção de si mesmo como corpo físico, por isso a sexualidade também pode ser associada à tragédia e à violência.
Um bom exemplo disso está no mapa natal de John Wayne Bobbitt, que tem Lilith, Sol e Saturno conjuntos em Áries. Pra quem não se lembra ou não era nascido na época do acontecimento que o deixou famoso, a esposa de John, Lorena Bobbitt, cortou seu pênis e o jogou fora pela janela do carro quando fugia de casa.

Obviamente, isso ocorreu num momento de total descontrole emocional de Lorena, após uma briga seguida de estupro. O pênis foi encontrado pelos bombeiros e reimplantado com sucesso. O caso teve extrema repercussão midiática, especialmente entre tabloides do mundo todo, que exploraram o lado anedótico do fato.
O casal personificou a energia de Lilith de uma forma literal: o homem, com o posicionamento da Lua Negra em Áries, por meio de ações violentas de um Marte escorpiano, despertou a energia da sombra do feminino em sua esposa. Lorena Bobbitt encarnou Lilith e, conforme seu próprio depoimento à polícia, não conseguiu resistir à força do arquétipo.
Apesar do sensacionalismo sobre uma situação extremamente traumática e violenta, o caso ajudou a colocar em evidência a questão do estupro dentro do casamento e das agressões domésticas sofridas por mulheres. Um tema bastante caro a Lilith, conforme já comentamos em outras postagens sobre os signos de Aquário e Peixes. Tanto John, quanto Lorena foram inocentados pela Justiça das acusações movidas mutuamente.
Sofrimento e reconstrução
Em 2019, foi lançado um documentário sobre o caso. Atualmente, Lorena tem uma fundação que ajuda mulheres vítimas de violência, é casada e tem uma filha adolescente. John protagonizou dois filmes pornôs nos anos 90, e já foi processado duas outras vezes por agressão contra mulheres.

Lorena nasceu em 31 de outubro de 1970 no Equador, tem Lilith em Virgem e um stellium de planetas em Escorpião: Sol, Mercúrio, Lua, Júpiter, Vênus e Netuno. Com tantos planetas nesse signo regido por Marte e Plutão, a reação violenta a uma agressão profunda sofrida seria de se esperar. Assim como também a capacidade de reconstrução da vida após o trauma.
Outro detalhe interessante: o Quíron dela está conjunto à Lilith, Sol e Saturno de John, o que demonstra como a energia sem limites dele, especialmente sexual, poderia ser um ponto de grande sofrimento para ela. Quando há uma conjunção de outro planeta com Lilith, pode haver excessos nessa energia, absorção, ou uma sensação de sufocamento.
Ainda que o Marte de John em Escorpião provavelmente tenha sido um fator de grande atração mútua, também pode ter sido um catalisador da violência. John pode ter se sentido sufocado pela energia de sofrimento trazida pelo Quíron de Lorena, e isso, provavelmente, vinha à tona sempre que a identidade e as formas de estruturação arianas dele eram expressas.
Na data do acontecimento, 23 de junho de 1993, Lilith estava no grau 27 de Peixes, chegando a Áries poucos dias depois e ativando Sol, Saturno e Lilith dele, e o Quíron dela. Em janeiro de 1994, quando Lilith ainda estava em Áries, Lorena foi absolvida por unanimidade pelo júri pela agressão cometida.
Energia sem limites
Difícil de conter, especialmente em relação à espontaneidade e à impulsividade, é a definição de Gravelaine (1985) para Lilith em Áries. O excesso de energia e de agitação podem resultar em uma ansiedade por viver tudo que há para viver, no menor tempo possível.

A pessoa com esse posicionamento pode ter percebido na mãe alguém que não tinha noção da própria força, e que reagia de forma agressiva ou obsessiva diante do papel materno. Isso pode levá-la a ser vítima de violências ou portar-se de forma ameaçadora, pode ser invasiva ou permitir a invasão de sua própria intimidade.
Busca sua individualidade por meio do outro, ao mesmo tempo em que tem uma necessidade extrema de autonomia. Por esse ponto paradoxal, talvez a convivência com alguém assim não seja muito fácil.
A sombra de Lilith é o êxito, pois ela sente medo de não ser digna, não ter mérito e se preocupa extremamente com a forma como realiza as coisas. Por isso, sua autoestima é baixa e o indivíduo com esse posicionamento pode se auto-sabotar, evitando pessoas, trabalhos ou opções que lhe parecem muito boas para si mesma. Em outros termos: a agressividade, quando não canalizada de forma criativa, pode se voltar contra a própria pessoa.
Bênção vocacional
Por outro lado, tanta inquietação e hiperatividade faz da Lilith ariana uma chave para a inovação e o pioneirismo, especialmente voltados para atividades incomuns, desafiadoras ou perigosas. Como explica Jay (2010), a melhor forma de direcionar a energia sem limites desse posicionamento é por meio da vocação.
Iniciativa, assertividade, poder de decisão, confiança e coragem são características que podem auxiliar na realização e na liderança de outros. Mas o a síndrome do “faça do meu jeito” provavelmente também está presente, ainda que nem sempre de forma óbvia.
Se a pessoa conseguir direcionar a tremenda energia criativa para um campo de interesse e materialização, e realizar o potencial de atuar de forma extrovertida na educação e na arte, o poder de Lilith não será negado. Ao elevar sua visão para as preocupações sociais, pode evitar muitas frustrações nas relações e conseguir a gratificação que almeja.

Em termos coletivos, portanto, talvez seja o momento de falarmos abertamente e com coragem sobre os temas de Lilith, sobre os afetos que ela movimenta e sobre a necessidade de expressão desse feminino de forma criativa e construtiva.
Pode ser uma chance de desenvolvermos novas formas de aprendizado coletivo sobre o arquétipo feminino da sombra. E novos meios de comunicar esses conteúdos de uma forma mais amorosa, mais gentil, mais nutritiva, já que o Nodo Norte está Câncer e fará quadratura com ela nos próximos meses.
A iniciativa e a ousadia arianas podem nos servir para uma conexão mais profunda com o feminino e para uma ressignificação dele em nós mesmos. O que significa para uma mulher ser forte e assumir essa força? E como um homem pode tomar consciência da sua sombra feminina, das expectativas ou angústias que ele tem em relação às mulheres?
O caminho pode estar na aceitação do masculino e da energia assertiva – Marte – em conexão com esse feminino. E na percepção de que Lilith, assim como Marte ou o Sol, pode ser estimulante, ativa, impulsiva, corajosa e guerreira.

Aceitar que Lilith deseja ardentemente ser ela mesma, tanto quanto seus companheiros masculinos, pode ser uma chave para ouvirmos o que ela tem a nos dizer.
Vamos tentar?
6 respostas para “Lilith em Áries: coragem para escutar o que a guerreira tem a dizer”