A imagem da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, fantasiada de Mulher Maravilha e com as mãozinhas cruzadas, na pose que a heroína do cinema costuma fazer quando vai liberar todo o seu poder, chegou-me como um soco no estômago. Que bom se ao cruzar os braços ela pudesse ter feito ricochetear a bala que atingiu o seu pequeno corpo às 21h30 da sexta-feira, 21 de setembro.

Foi por meio dessa fotografia que tomei conhecimento da existência e, ao mesmo tempo, da horrível morte de Ágatha no último final de semana. A garotinha foi estraçalhada por um tiro de fuzil que lhe atingiu as costas quando estava dentro de uma kombi com mãe e outras pessoas no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.
No momento em que Ágatha foi baleada, Lilith em Peixes na Casa X estava em um aspecto de cruz no céu, conjunta a Netuno, oposta a Marte em Virgem e quadrada à Lua em Gêmeos e também a Júpiter em Sagitário. A tensão entre agir de forma metódica para fazer o que achamos que seja certo (Marte em Virgem) e manter nossas fantasias e ilusões sobre nossa própria humanidade (Netuno em Peixes) foi acionada por esse evento trágico.
Testemunhas dizem que o tiro foi disparado por um policial militar contra dois homens em uma motocicleta. A PM do Rio de Janeiro disse que houve tiroteio entre os policiais e traficantes. As pessoas que estavam no local na hora do crime negam que tenha havido confronto. Até o momento em que escrevo, as investigações continuam, mas ninguém foi preso.
Visibilidade pública
Lilith na Casa X dá visibilidade a todas as nossas ações, o que pode ajudar a explicar a repercussão pública da morte de Ágatha. A quadratura com a Lua em Gêmeos na Casa I mostra que as versões contraditórias, os boatos, as mentiras, os comentários e opiniões divergentes podem encontrar um lugar propício para sua disseminação. E podem gerar reações emocionais extremadas, como revela o protesto que tomou conta da comunidade no sábado, 22 de setembro.
A tensão com Júpiter em Sagitário, na cúspide da Casa VIII, também pode reverberar como uma necessidade de buscar Justiça para transcender a morte. Os pais da menina estiveram no programa Encontro, de Fátima Bernardes, na terça-feira, 24 de setembro, e a mãe dela disse que não queria chorar porque a garota não gostava de vê-la chorando quando alguma criança era atingida por balas perdidas na comunidade onde vivem.

A tristeza da declaração nem precisaria ser destacada, mas o faço para mostrar a força de Lilith em Peixes por meio da compaixão e da empatia. É impossível não se emocionar ao pensar na menininha falando algo assim para sua mãe. Especialmente depois de saber que o que ambas mais temiam, finalmente aconteceu.
A quadratura de Lilith com Júpiter indica que é provável haver dificuldades nesse processo de busca da Justiça. De qualquer forma, há potencial para que a crise leve a algum aprendizado que possa ser compartilhado de forma equilibrada. Vênus e Mercúrio em Libra, em sextil com Júpiter, indicam essa possibilidade, e os questionamentos que começam a surgir sobre a Política de Segurança do governo do estado revelam que o debate pode estar apenas começando.
Lilith também estava em sextil com Saturno, domiciliado em Capricórnio na Casa VIII, e em trígono com o Nodo Norte em Câncer na Casa II. A tragédia que levou a menina pode nos ajudar a materializar valores mais sólidos, pode nos ajudar a perceber com mais clareza que nossa missão é proteger, amparar, nutrir e cuidar das nossas crianças, pois elas são o nosso principal recurso enquanto sociedade.
Negligência e violência
Não há como não se emocionar com a história de mais uma criança assassinada por balas – perdidas, dizem alguns – que teimam em encontrar corpos tão pequenos no Rio de Janeiro. De acordo com a plataforma colaborativa Fogo Cruzado, Ágatha foi a quinta criança assassinada este ano pela violência no estado, a 16ª baleada em apenas nove meses.
Para além da tristeza e revolta que todas essas mortes estúpidas de crianças e adolescentes me causam, o assassinato de Ágatha, em particular, me emocionou pela representatividade da imagem dela fantasiada de Mulher Maravilha. Os primeiros textos deste blog foram exatamente sobre o simbolismo arquetípico do filme protagonizado por Gal Gadot. Neles, comento diferentes aspectos de como a mitologia que dá origem à Astrologia reverbera em nossa psique até hoje.

Os mitos e arquétipos dos quais nos fala a Astrologia estão presentes com tanta força em nosso interior que uma menina do Rio de Janeiro foi fisgada pela figura da Mulher Maravilha, assim como eu e como você, que lê este blog. Exatamente porque a heroína condensa em sua imagem símbolos muitos antigos de criação, amor, força, coragem, determinação, poder, ética e justiça. Um feminino que se pode admirar e no qual podemos nos espelhar.
Mas que não impede de sermos mortas por “engano”. Ou sem engano algum, como revelam os feminicídios comentados nas postagens anteriores. As Meninas Maravilhas estão sendo violentadas em nosso mundo. Espancadas, estupradas, negligenciadas, assediadas, exploradas comercialmente na televisão e assassinadas, na maior parte das vezes, exatamente por quem deveria zelar por sua segurança. (Voltarei a este assunto no próximo post.)
Plutão e Marte em ação
Em uma postagem anterior sobre o papel do vilão Ares no filme Mulher Maravilha comentei como o arquétipo do deus da guerra está entranhado na nossa psique. Os casos de agressão sofridos por nossas meninas revelam que ele pode estar muito mais perto delas do que possamos imaginar, travestido de pai, tio, avô, irmão, primo, amigo, vizinho cuidadoso.
Não é, contudo, somente a raiva cega, aberta e totalmente despreocupada com as consequências de Marte que está ferindo nossas meninas, ainda que em determinados essa energia disruptiva seja um motor para a ação, como parece ter sido no caso de Ágatha. Afinal, porque outra razão um policial treinado ou um traficante dispararia um fuzil no meio da população, sem confronto algum?

No mapa do momento da agressão sofrida por Ágatha, Marte em Virgem na cúspide da Casa V conversa de forma harmônica com Plutão em Capricórnio na cúspide da IX. Seria o tempo de materializar e cristalizar nossas pulsões, permitindo o questionamento de nossas identidades coletivas e transformação delas, mesmo que por meio da dor? E esse impulso estaria vindo das crianças (Casa V), a fim de ampliar nossos horizontes, nossas filosofias de vida e nossos valores coletivos (Casa IX)?
Um último aspecto que gostaria de comentar consiste na oposição entre Vênus em Libra na Casa V e Quíron em Áries na Casa XI. Talvez a afetividade que expressamos de forma equilibrada nas nossas criações, e especialmente em relação às crianças, seja a chave para iniciar o processo de cura coletiva pelo qual tanto ansiamos.
Não basta, porém, expressar nossa afetividade com filhos, sobrinhos, alunos, crianças da vizinhança e termos empatia por crianças que sofrem violências, mas nem conhecemos. Talvez seja a nossa criança interior, ferida há bastante tempo em sua espontaneidade e criatividade, que precise de atenção, nutrição e cuidado.

Porque somente alguém com muito ódio de sua própria memória infantil conseguiria perpetrar tamanha agressão contra crianças indefesas. E somente uma sociedade profundamente abalada em sua psique coletiva poderia achar que a morte de Ágatha é apenas um “efeito colateral” da guerra contra o tráfico, como li em vários comentários, inclusive de jornalistas, nas redes sociais nos últimos dias.
Que possamos olhar para nós mesmos a fim de evitar que a barbárie continue. Que possamos cuidar de nós mesmos, para que consigamos zelar por nossas crianças. Internas ou não.

Gostei muito. E acho significativo Sol e Marte conjuntos, Saturno regente do Mc na casa da morte, em trigono com Marte e Sol, pontuando a violência que já estava sendo consumida, bem no nosso lar e nossa casa. E a lua em oposição a Jupiter gritando pela justiça…. q parece não vir.
Amei sua explanação do cuidado com as crianças
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Casa VIII remexida demais, né? Nosso corpo social, a exemplo dos corpos das crianças e das mulheres, está sendo profundamente agredido. E dentro de casa. Triste demais, mas tem que, pelo menos, nos fazer pensar.
Gracias pelo comentário e pela leitura, querida! Vamos juntas!
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